Carnaval é uma celebração europeia – antecede o início da quarentena que prepara com jejuns e limpezas as pessoas para a primavera, celebrada pela igreja católica como Semana Santa. Mas se tornou brasileira, integrando as diversas culturas e tradições que compõem o país. Ela é hoje uma das comemorações mais populares do mundo.
Em este carnaval nós vamos homenagear as mulheres, falando de três grandes artistas que marcaram a música e a imagem do Brasil. Você já as conhece?
Se não fosse a carioca Chiquinha Gonzaga, as mulheres nunca teriam ocupado a profissão de maestrina. Sua história começa durante o Brasil de Pedro II, época na qual o ambiente musical era composto por valsas e absolutamente restrito para mulheres.
O piano era o principal instrumento da Chiquinha e das senhoras pertencentes às elites cariocas, porém por convenções sociais da feminilidade a prática era limitada ao ambiente privado. À frente de seu tempo, Chiquinha passou a tocar em bailes públicos, causando um verdadeiro escândalo para a sociedade de sua época.
Vanguardista e com um espírito livre, não hesitou em abandonar seu marido de casamento arranjado pelo seu pai para viver com o homem que amava. Além de ser uma importante militante abolicionista e arrecadar fundos para a Confederação Libertadora, na qual denunciava o atraso e preconceito do Brasil durante o Segundo Reinado.
Chiquinha Gonzaga inovou na música, integrou ritmos e elementos não tradicionais da época e com isso ajudou a definir os rumos da música brasileira, que se consolidava nas primeiras décadas do século XX. Famosa por suas marchinhas carnavalesca que entre outras, lhe garantiram o reconhecimento merecido como uma das maiores artistas de todos os tempos. Com certeza você a conhece através da famosa Ó abre alas.
Dona de um timbre de voz grave e inconfundível, Clementina de Jesus carregava consigo a marca da cultura afro brasileira, e a manifestação de sua herança religiosa do candomblé. Também conhecida como Rainha Quelé, cantava junto aos seus banzos ancestrais para enaltecer sua cultura jongueira.
Antes de ser descoberta pelo compositor Herminio Bello de Carvalho em 1963, cantava por prazer. Aos 63 anos, Herminio fascinado pelo resplendor de sua inconfundível voz, a ensaiou em sua casa para a performance no Rosa de Ouro, a qual consagrou sua carreira de sambista. Enquanto, como muitas mulheres negras de sua época, negadas de espaços de atuação, trabalhava como doméstica para se sustentar antes de ser reconhecida pelo seu talento.
A sambista participou nos anos seguintes de vários discos conceituados, incluindo a participação em Milagres dos Peixes, de Milton Nascimento. Clementina representa a força da compositora negra brasileira, e deixou um marco indiscutível no samba nacional. Você conhece sua música?
Nascida em Portugal, Carmen Miranda veio muito jovem ao Brasil. E ainda criança mostrava grande gosto pela música e dança. Sua carreira decolou logo, profissionalizou seu talento e se apresentou em clubes e teatros, como o cassino da Urca. Foi a primeira artista da América Latina a ter sucesso no mundo com sua música de carnaval Ta-hí. Carmen fez sucesso por suas aparições no rádio, cinema, televisão. No âmbito do rádio foi a cantora pioneira a assinar contrato com uma emissora, enquanto os artistas geralmente recebiam cachê. A turnê mundial no estilo carnavalesco começou pela América Latina e depois migrou para os teatros norte-americanos.
Foi contratada para se apresentar na Broadway, onde teve sua carreira artística completamente transformada. Em 1939, Carmen solidificou sua fama internacional a partir do filme musical Banana da Terra e estrelou os primeiros filmes sonoros da época. Era muito aclamada pela crítica pelo seu estilo único, e teve muita influência nos Estados Unidos, sendo a primeira mulher latina a estampar a calçada da fama. Estrelou os primeiros filmes sonoros da época.
Apesar das contradições de seu visual icônico, por exotizar a cultura brasileira e fetichizar o sotaque latino, é inegável que sua participação na música brasileira foi um marco mundial. Se atreveu a ser uma mulher exuberante, independente, usar cores brilhantes, chamar a atenção em um mundo no qual a mulher devia ser apagada e discreta.
Agradecemos estas mulheres por marcarem a música nacional com suas histórias inspiradoras e composições tão ricas que permitiram o desenvolvimento único da música e cultura do Brasil. Feliz Carnaval!
Isadora Pinheiro, jornalista em formação e colaboradora do TeSer