“Só amadurecem aqueles que experimentam a imensa amplidão da própria vulnerabilidade”
Muitas mulheres ainda não conhecem Rose Marie Muraro, uma mulher extraordinária, tanto no sentido humano como no legado intelectual que deixou. Pioneira, investigou a sexualidade da mulher brasileira, questionou o sistema econômico, se aventurou em várias áreas: economia, física, política, feminismo, jornalismo, religião, maternidade. É leitura obrigatória para as mulheres interessadas no ressurgir do feminino. Com uma linguagem mais acadêmica, vale a leitura e conhecer esta mulher incrível, pois é uma das primeiras brasileiras a tratar das questões da mulher. Sua leitura sobre a queima das bruxas na Europa e suas consequências é de uma enorme clareza. Nos permite dimensionar o tamanho e os motivos da perseguição que sofremos por tantos séculos e que até hoje ecoam.
Sua vida por si só, já é uma grande lição e nos fala de uma mulher corajosa, criativa e sensível, que teve que atravessar enormes desafios: sempre teve saúde frágil, nasceu praticamente cega, recuperou a visão com 66 anos, nos últimos anos de vida ficou semi paralítica, enfrentou um câncer de medula, vindo a falecer com 84 anos. Sem poder ler, escreveu livros até o final da vida, além de participar com sua visão brilhante e pioneira de inúmeros projetos e debates. Como ela mesma diz “só porque vivi no impossível eu fiz tudo o que eu fiz, senão não dava”.
Aqui um pouco mais sobre ela:
Pioneira feminista no Brasil nos anos 1970, Rose Marie Muraro, construiu seu legado por participar de movimentos sociais e estudos sobre gênero. Irreverente, contestava a norma social burguesa da qual fazia parte para tornar o mundo melhor. Em sua carreira acadêmica, estudou Física e Economia e ainda contribuía para os jornais estudantis cariocas.
Graças à dedicação de Rose em discutir gênero e sociedade, o Brasil começou a colocar em pauta temáticas feministas em suas políticas. Foi ela quem introduziu a aspecto de classe no estudo, Leonardo Boff, teólogo e amigo próximo dessa bruxa moderna a responsabiliza por “trazer de forma sistemática a sexualidade da mulher brasileira a partir da situação ou classe social”. Como representante do movimento, contribuiu para a consolidação de ideias feministas e de direitos sociais.
Mesmo com sua formação voltada ao pensamento lógico, era muito sensível em sua escrita, e foi inovadora ao discutir amplamente temas ainda considerados tabus para a época, como a sexualidade feminina. A escritora publicou mais de 40 livros, além de várias poesias e artigos feministas. Foi editora da Editora Vozes por 17 anos, tendo atuado na edição de 1600 títulos. Foi expulsa da Editora nos anos 80 por ordem do Vaticano por ter escrito e publicado o livro «Por uma erótica cristã» Com sua experiência em editoração, fundou a primeira editora de mulheres do Brasil, a Rosa dos Tempos em 1990.
Nome de grande liderança na luta de movimentos para as mulheres, Rose nunca admitiu que a cegueira a impedisse de agir para mudar o mundo. Morreu aos 84 anos em 2014, com a certeza de que trouxera o assunto mulher à tona no espaço público.
Para conhecer mais a obra da intelectual, recomendamos a leitura dos livros “A mulher impossível”, “Libertação Sexual da Mulher” , “Os seis meses em que fui homem” e “Textos da Fogueira”, de Rose Marie Muraro (Editora Letra Viva)
Aqui um vislumbre delicioso desta mulher impossível:[su_youtube_advanced url=” https://www.youtube.com/watch?v=gjY-K9KPXyU”] https://www.youtube.com/watch?v=gjY-K9KPXyU[/su_youtube_advanced]